O conceito de Economia Azul é ago que vem emergindo ao longo dos últimos anos e que muitas vezes é também chamado de Economia do Mar. Como não poderia deixar de ser diferente, o Portal Marítimo mudou seu slogan por isso, tamanha a relevância da atividade para o Brasil e o mundo.

É interessante, destarte, destacarmos que o conceito é uma espécie de consequência de um outro conceito amplamente debatido pela primeira vez no Rio de Janeiro (SIM, aqui no Brasil!), durante a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, que ocorreu entre os dias 20 e 22 de junho de 2012, também conhecida como “Rio + 20”, e que focou em dois temas chave: a estruturação de uma rede mundial voltada para a promoção do Desenvolvimento Sustentável e o avanço e lapidação do conceito de “Economia Verde”, até então não muito conhecido. o foco desde sempre foi a erradicação da miséria mundial.

No mesmo instante em que o conceito foi apresentado para discussão, as nações costeiras iniciaram seus questionamentos sobre a aplicabilidade desses conceitos em suas matrizes econômica e social. Neste instante as discussões sinalizaram a necessidade de se aprofundar e especificar um novo conceito, o de “Economia Azul” e que trataria dos assuntos relacionados às águas.

O conceito surgiu, primeiramente como um tipo de “aspecto azul” da Economia Verde, porém o tema tomou tal vulto e relevância que foi emitido um relatório específico, o “Green Economy in a Blue World”, ou seja, “Uma Economia Verde em um Mundo Azul (UNEP, FAO, IMO, UNDP, IUCN, GRID-Arendal, 2012). A partir dali, vários esforços foram feitos para que o conceito de Economia Azul tivesse vida própria.

Vivemos em um planeta coberto 72% por oceanos, que também representam 95% de sua biosfera existente e onde as relações que envolvem as trocas comerciais se dão, via de regra, sobre as águas, através da pujança do transporte marítimo mundial, onde a Marinha Mercante desempenha um papel de protagonismo, enquanto outras de extrema relevância ocorrem sob as águas, envolvendo a exploração dos recursos que estão nas águas e nos leitos dos rios, lagos e oceanos.

Mais de 70% do globo é coberto por água

A Economia Azul vai além do que ocorre nos oceanos, mas inclui tudo o que ocorre sobre ou sob as águas, sendo um setor importante demais e que também vai além de ser apenas um vetor de desenvolvimento econômico. A Economia Azul traz consigo uma enorme pegada na promoção do desenvolvimento sustentável, do uso responsável dos recursos do meio ambiente, da promoção da dignidade e bem estar humano, da erradicação da fome, do desenvolvimento social e da geração de emprego, trabalho e renda nos países que, de alguma forma, desenvolvem qualquer atividade relacionada às águas, interiores ou litorâneas.

Hoje estima-se que a Economia Azul movimente, apenas pelos oceanos, algo em torno de US$ 1,5 trilhão por ano, sendo que 80% do comércio internacional ocorre pela via marítima (UNCTAD, 2012). Somente a pesca gera 350 milhões de empregos no mundo e em 2025 estima-se que 34% da produção de petróleo será originada em campos localizados no mar.

Principais componentes da Economia Azul – Imagem: Banco Mundial

Poderíamos citar aqui diversos aspectos componentes da Economia Azul, porém vale destacar os cinco mais relevantes, segundo o Banco Mundial, e que chamam atenção pelo tamanho e potencial tanto econômico como social e ambiental: Transporte Marítimo, Pesca, Energias Renováveis, Mudanças Climáticas, Turismo e Gerenciamento de Resíduos.

A Economia Azul pode ser considerada uma verdadeira gigante, incluindo atividades sobre as águas já estabelecidas, como já visto nos aspectos citados citado como pesca, turismo e transporte marítimo, mas também atividades novas e emergentes, como energia renovável offshore, aquicultura, atividades extrativas do fundo do mar e atividades de biotecnologia marinha e bioprospecção. Uma série de serviços prestados por ecossistemas oceânicos, e para os quais os mercados ainda não não existem com a devida relevância comercial, mas que cada vez mais estarão em evidência nos próximos anos, como sequestro de carbono, a proteção costeira, a eliminação de resíduos e a existência de biodiversidade. Notem que esses assuntos são cada vez mais discutidos e divulgados.

É claro que as atividades que compõem a Economia Azul são diferentes em cada local, sendo altamente contextualizadas tanto nos potencias naturais como na visão polítco-estratégica de cada nação.

Porém, para ser considerada como uma “atividade azul”, a mesma deve cumprir três requisitos básicos:

1- fornecer benefícios sociais e econômicos para as gerações atuais e futuras;
2- restaurar, proteger e manter a diversidade, produtividade, resiliência, funções essenciais,
e valor intrínseco dos ecossistemas marinhos; e
3- ser baseada em tecnologias limpas, energia renovável e fluxos circulares de materiais que
irá reduzir o desperdício e promover a reciclagem de materiais.

Bem… de forma introdutória, esses são os aspectos e informações que julgo relevantes sobre o assunto, em um espectro mundial. E é claro que há mais detalhes, que encorajo a todos que me leem neste momento a aprofundarem-se.

Em um próximo artigo apresentarei outras especificidades e o recorte do Brasil, justificando o porquê da relevância do tema e de tudo o que pode gerar de transformação social e econômica em nosso país.

Até mais!

Rodrigo Cintra